Museu Nacional ganha meteorito de 4,5 bilhões de anos que caiu em Santa Filomena (PE)

Pequeno, rochoso e extraterrestre. É assim que o pedaço do meteorito Santa Filomena, o mais novo a integrar o acervo de mais de 400 peças do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi descrito e entregue pelo grupo de pesquisadoras da UFRJ, as “Meteoríticas”. O meteorito, que pesa 2,85 quilos e tem mais de 4,5 bilhões de anos, caiu em 2020 em Pernambuco.

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A cerimônia que ocorreu na entrada principal, marca a retomada do calendário de pesquisas e estudos da unidade e foi apresentada junto à peça do meteorito Bendegó, de 5,360 quilos, encontrado na Bahia em 1784, e transferido para o museu em 1888, a pedido de Dom Pedro.

Segundo o diretor da unidade, Alexander Kellner, apenas a entrada principal e o hall de acesso serão reabertos para visitação do público, previsto para ocorrer em 6 de junho de 2024. Já as obras de toda a complementação do museu devem ficar prontas no final de 2026.

— De uma forma geral, o projeto de reconstrução do museu está sendo feito em três partes. A primeira parte é a área do palácio, no Parque de São Cristóvão, que está avançando bastante. Tanto é que vamos abrir este bloco para visitação. A área do porto botânico que fica dentro do parque precisa de atenção. Na terceira área, do campo de pesquisa, nos preocupa muito, que é justamente a área onde nós estamos construindo as estruturas provisórias. Isso ainda não está do jeito que deveria estar. Precisamos de verbas e estamos trabalhando nisso. Este é o primeiro passo da retomada — afirmou o diretor.

O meteorito Santa Filomena, que pesa 2,85 quilos, é composto de fragmentos do sistema solar e tão antigo quanto a terra e o sol, com mais de 4,5 bilhões de anos. Antes, o meteorito orbitava a aproximadamente duas unidades astronômicas da Terra, ou seja, a uma média de 15 quilômetros por segundo, equivalente a 54 mil quilômetros por hora.

Foi no início da tarde de 19 de agosto de 2020, no céu da pacata cidade de 6.906 habitantes de Santa Filomena (PE), que uma chuva de pedras estrondou a localidade. Eram meteoritos classificados como condritos, tipos rochosos comumente encontrados. Um dos pedaços que integrou o estudo do grupo caiu no telhado da casa de uma senhora, ao lado de uma igreja.

No momento da queda, a moradora achou que fosse um gato. Quando identificou ser uma pedra, resgatou o artefato e o guardou, à espera das pesquisadoras. No dia seguinte, o grupo chegou à cidade para começar o estudo de identificação das pedras encontradas. O pedaço que, agora, está em solo carioca, no entanto, é um outro fragmento.

Segundo a pesquisadora do departamento de Geologia e Paleontologia Maria Elizabeth Zucolotto, que integra o grupo, o Santa Filomena veio de um cinturão dos asteroides, um espaço sem planetas, que fica entre Marte e Júpiter.

— É a primeira vez que a queda de um meteorito é registrada no Brasil, num estudo sobre a classificação dele, iniciado em 2019. O trabalho científico foi publicado ontem, e teve que ser bem completo — disse a pesquisadora detalhando a diferença dos achados rochosos:

— É importante que a população saiba a diferença até para nos ajudar na hora da entregar uma peça encontrada para pesquisa e classificação. Meteoro é um rastro luminoso no céu. Já a tocha que chega no chão e sobrevive a queda é o meteorito.

O grupo Meteoríticas, composto por quatro pesquisadoras, surgiu em 2017 através de um trabalho de campo em Palmas de Monte Alto, na Bahia. Segundo a pesquisadora Amanda Tose, do Instituto de Geociência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o coletivo atua em três frentes: pesquisa, trabalho de campo e publicação de artigo científico.

— São várias mulheres que trabalham na ciência. Somos mais que três. Nós criamos as Meteoríticas a partir de um trabalho em conjunto. Antes nós, cientistas, só atuávamos nos laboratórios.

Segundo o grupo, cerca de 400 peças do acervo de meteoritos foram recuperadas do incêndio. Pouco mais de 30 peças estão em exibição no Planetário do Rio. O trabalho da equipe com o Museu Nacional é terminar o trabalho de recuperação até 2026 para que as peças possam voltar a serem exibidas ao público no espaço.

— Concentramos as buscas nos locais que tinham meteoritos. Mas existia muita coisa que não era meteorito. Nosso trabalho agora é tentar identificar o que é meteorito e o que não é. Já que as peças se misturaram com o incêndio — afirmou Maria Elizabeth, uma das pesquisadoras.

A pesquisadora Maria Elizabeth adiantou ao Globo que as Meteoríticas têm uma rota internacional a caminho: a primeira viagem de caça de meteoritos no Peru, na última semana do mês de abril. Segundo a professora, a viagem marca o início de uma série de pesquisas em parceria com laboratórios internacionais de relevância científica, histórica e pioneira no Brasil.

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